quarta-feira, 20 de junho de 2012

APENAS UM BRINQUEDO

Nós éramos brinquedos felizes! Vivíamos em um quarto colorido, iluminado, cujo clima era tão harmonioso que podíamos encher os pulmões, todas as manhãs, a cada despertar do amigo “Tic Tac Toy”.

Éramos cuidados por nossa protetora, uma menininha linda, sorridente, meiga e inocente. Sabe? Aquela pureza infantil que conquista a gente? Então, essa era a nossa querida e pequena Heloísa! Olhos grandes, cabelos longos, sempre com cheirinho de talco! Disputávamos sua atenção todos os dias na “hora do brincar”, queríamos seu colo, suas palavras, sua compreensão, seu calor humano... Amávamos amá-la, de uma forma indescritível, por motivos que meramente sentíamos.
Mas tudo mudou.
Nós brinquedos podemos ver além do que os mero mortais conseguem enxergar! E enxergávamos a maldade e a escuridão no olhar dos novos amigos que Heloísa havia adotado. Pequenos humanos, não só de tamanho, mas de espírito! A nossa Heloísa deixou que seus novos amigos brincassem com a gente, doía! Ela não via, mas eles nos quebravam aos poucos. Nós pedíamos ajuda à ela! A lousa mágica deixou vários recados, mas ela sempre ignorava, isso quando seus malígnos amigos não viam antes e jogavam a pobrezinha no chão para desfazer as escrituras. Coitadinha!
Não havia mais luz, tornou-se irrespirável o ar, pesado, condensado, triste... Os brinquedos que restaram inteiros tentavam fugir, mas como? Éramos apenas brinquedos, simples, frágeis e inocentes amigos que, um dia, compartilharam de maravilhosos momentos.
Não percebemos, foi aos poucos, talvez por ser nossa protetora nós não tenhamos conseguido enxergar o fato de que a pequena Helô não existia mais, havia crescido, perdido a inocência e todas as outras características que a tornava tão especial. Realmente não sei em que ponto nós a perdemos, tornamo-nos descartáveis! Mas, a partir de então, enxergando-a como a pessoa que realmente era, pudemos ver que ela não perdera totalmente a mania de brincar, pois o aluno superou os mestres! Enxergávamos o quanto ela fazia seus supostos maliciosos amigos de marionetes.
Nunca senti veracidade na pintura em meu rosto, mas se eu não fosse um brinquedo, certamente eu choraria, pois não vi quando nossa pequenina perdeu a inocência e a alegria de viver...



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